Durante viagem oficial à China, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), se reuniu com representantes do consórcio chinês responsável pela construção da Ponte Salvador-Itaparica e revelou três exigências que os investidores consideram essenciais para dar início às obras do megaprojeto, que promete revolucionar a mobilidade na Bahia.
O encontro ocorreu após meses de negociações e a assinatura de um termo aditivo em fevereiro deste ano, mediado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mesmo com o acordo em vigor, os chineses surpreenderam ao apresentar novas condições para avançar com o projeto. Segundo Jerônimo, apesar dos impasses, o diálogo em solo chinês “devolveu o otimismo” sobre o futuro da obra.
As três exigências do consórcio chinês:
1. Revisão contratual por conta de rocha mole
Uma das principais preocupações técnicas é a descoberta de rocha excessivamente maleável no solo marinho da Baía de Todos-os-Santos, identificada entre o final de 2024 e o início de 2025. Essa característica geológica pode exigir mudanças no projeto de fundação e encarecer significativamente a execução.
“Eles estavam preocupados porque encontraram, na sondagem, uma rocha mole, que faria gastar mais. Perguntaram: se for uma rocha muito mole e eu tiver que gastar mais, vai ser corrigido? Claro que sim”, declarou Jerônimo.
O contrato já prevê a possibilidade de revisão de valores em caso de imprevistos geológicos, o que deve ser ativado se confirmado o impacto no custo da obra.
2. Agilidade na concessão de vistos para engenheiros
Outro obstáculo levantado pelos chineses é a burocracia na concessão de vistos de trabalho para os engenheiros responsáveis pela execução técnica da ponte.
“Eles pedem agilidade no visto para os engenheiros chineses virem, porque a fila está muito grande”, explicou o governador.
Hoje, o Brasil exige visto para cidadãos chineses, mesmo em viagens de negócios ou trabalho. A liberação pode levar meses, o que impacta diretamente o cronograma da obra.
3. Novo aporte de R$ 1,5 bilhão do Banco do Nordeste
O consórcio também solicitou mais R$ 1,5 bilhão em financiamento por parte do Banco do Nordeste (BNB), que já havia investido R$ 3 bilhões na etapa inicial do projeto.
“Eles querem mais R$ 1,5 bilhão, para poder dar a arrancada na ponte”, afirmou Jerônimo.
O governador já intermediou uma nova rodada de negociações entre o BNB e os investidores, além de abrir diálogo com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – o Banco do BRICS, presidido por Dilma Rousseff. Em encontro em Xangai, Jerônimo apresentou o pleito ao NDB, que se comprometeu a analisar a viabilidade do financiamento.
“Perguntei se ela [Dilma] tinha como receber essas empresas e analisar se tem condições de aportar mais R$ 1,5 bilhão. Ela disse que pode mandar procurá-la, que vai analisar”, revelou o governador.
A Ponte Salvador-Itaparica é um dos maiores projetos de infraestrutura da história da Bahia, com investimento estimado em mais de R$ 12 bilhões e previsão de transformar o desenvolvimento da região do Recôncavo e do Baixo Sul. Com extensão de aproximadamente 12,4 km, a ponte ligará diretamente a capital baiana à Ilha de Itaparica, reduzindo significativamente o tempo de deslocamento e impulsionando a economia local.
Apesar das exigências adicionais, o governo estadual acredita que as negociações avançaram de forma positiva e que a obra está cada vez mais próxima de ser iniciada.