Uma mulher de 21 anos ficou gravemente ferida no rosto após ser atingida pela explosão de uma espada junina, artefato típico dos festejos de São João na Bahia. O acidente ocorreu na noite desta segunda-feira (24), em Cruz das Almas, cidade do Recôncavo baiano conhecida pela tradição da chamada "guerra de espadas".
Segundo informações da Prefeitura de Cruz das Almas, a vítima - que não teve o nome divulgado - estava em uma rua do centro da cidade quando foi surpreendida pela explosão. A espada teria desviado do trajeto ou explodido próximo a ela de forma descontrolada, atingindo diretamente seu rosto.
A mulher foi socorrida inicialmente pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade com trauma facial grave e, devido à gravidade dos ferimentos, foi transferida para o Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, onde permanece internada.
De acordo com a equipe médica do HGE, a paciente deu entrada com lesões significativas no rosto, incluindo risco de comprometimento ocular. Ela passou por exames e segue sob observação. Familiares acompanham o caso de perto e pedem orações por sua recuperação.
A explosão ocorreu em meio à prática da "guerra de espadas", tradição centenária em Cruz das Almas, que consiste na queima de espadas em ruas da cidade durante os festejos juninos. Embora considerada parte da identidade cultural local, essa prática é ilegal. A fabricação, comercialização e o uso das espadas são proibidos por lei e configuram crime conforme o Estatuto do Desarmamento, por se tratar de artefato explosivo não autorizado.
A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros foram acionados para investigar as circunstâncias do acidente. Testemunhas relataram que, no momento do ocorrido, a prática das espadas acontecia de forma intensa na região central da cidade. Até o momento, não há informações sobre quem lançou a espada que atingiu a vítima, nem se alguém foi identificado ou detido. A Polícia segue investigando o caso.
Em nota, a Prefeitura de Cruz das Almas lamentou o ocorrido e reforçou que não apoia oficialmente a prática da guerra de espadas. O município afirma que tem intensificado o policiamento e as ações de fiscalização para coibir o uso dos artefatos durante o período junino, mas reconhece que enfrenta forte resistência de grupos tradicionais.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Cruz das Almas, entre os dias 1º e 24 de junho, foram registrados 169 atendimentos por queimaduras na rede municipal de saúde. Desses, 10 pacientes precisaram ser transferidos para hospitais com maior complexidade, como o HGE.
Segundo levantamento da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), entre os dias 18 e 25 de junho, 72 pessoas deram entrada em hospitais públicos com ferimentos provocados por fogos, fogueiras e explosões de bombas. Desses casos, 53 foram atendidos no HGE, principal centro de referência para queimados na Bahia. Também houve registros no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus (12 casos), Hospital Geral Prado Valadares, em Jequié (3 casos), Hospital do Oeste, em Barreiras (1 caso) e Hospital Regional de Juazeiro (3 casos).
Ainda durante os festejos, a Polícia Militar apreendeu 20 rojões utilizados em uma guerra de fogos em Juazeiro, no norte do estado. Na madrugada desta quarta-feira (25), durante patrulhamento, os policiais flagraram dois adultos e um adolescente realizando a prática. Com eles, foram encontrados 16 rojões em uma mochila. Pouco depois, outro grupo foi localizado, com mais quatro rojões em posse de outro adolescente.
Todos os envolvidos foram levados para a delegacia, onde foram lavrados Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO) pelos atos cometidos.
Enquanto a população celebra o São João, casos como o ocorrido em Cruz das Almas reacendem o debate sobre os limites entre a preservação da cultura popular e a segurança pública. A guerra de espadas, embora carregada de simbolismo e tradição, representa um risco real à vida e à integridade física das pessoas quando praticada fora dos padrões de segurança e legalidade.
A direção do HGE deve divulgar nas próximas horas um novo boletim sobre o estado de saúde da mulher atingida pela espada.