A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pode enfrentar sanções da Fifa após indícios de irregularidade na contratação do técnico Carlo Ancelotti. O motivo seria o envolvimento de Diego Fernandes, que atuou como intermediário da negociação sem possuir registro oficial como agente licenciado — exigência presente tanto nos regulamentos internacionais quanto nacionais em vigor.
A operação, conduzida pela gestão anterior da CBF, liderada por Ednaldo Rodrigues, prevê o pagamento de R$ 7,6 milhões a Fernandes pelos serviços prestados. No entanto, ele não estava habilitado como agente no momento da intermediação, o que contraria o Regulamento de Agentes de Futebol da Fifa e o novo Regulamento Nacional de Agentes de Futebol (RNAF), implementado no Brasil em outubro de 2023.
A Fifa já notificou oficialmente a CBF, solicitando esclarecimentos sobre a participação do empresário. Em nota, a CBF afirmou que “os termos que envolveram a negociação para a contratação de Carlo Ancelotti e sua comissão técnica foram elaborados pela antiga gestão e possuem cláusulas de confidencialidade”. A atual direção, presidida por Samir Xaud, diz estar tratando o caso internamente com apoio da área de governança.
Internamente, o departamento jurídico da confederação já avalia formas de minimizar o impacto da possível infração. A principal linha de defesa da entidade deve ser a de que o acordo foi firmado antes da atual administração assumir o controle da CBF. Mesmo assim, especialistas apontam que o problema não se limita à Fifa: o pagamento à Fernandes também fere o regulamento nacional, em vigor após decisão da Justiça que suspendeu temporariamente a aplicação direta das regras internacionais no Brasil.
Segundo o artigo 11 do regulamento da Fifa, apenas agentes devidamente licenciados podem prestar serviços de intermediação em transferências ou contratações. Mesmo alegando ter atuado apenas como consultor, Fernandes figura como o responsável direto pela negociação com Ancelotti, o que reforça a caracterização de intermediação irregular.
Empresário diz ter atuado como consultor: Em nota, Diego Fernandes defendeu a legalidade de sua atuação e afirmou que “o contrato respeita rigorosamente todas as normativas da CBF e da Fifa”. Ele acrescentou que irá solicitar o registro formal de agente junto à CBF apenas após a conclusão do processo, o que é criticado por especialistas por não atender ao requisito básico de registro prévio.
“O curto prazo da negociação impossibilitou o registro imediato, mas todo o processo foi conduzido com transparência”, argumentou o empresário.
A possível punição à CBF pode incluir advertência formal, multa financeira e até restrições temporárias em negociações futuras. Embora seja cedo para prever a gravidade da penalização, a questão coloca em xeque a conformidade da entidade com padrões internacionais e levanta questionamentos sobre a transição entre gestões.
O episódio também reacende o debate sobre a profissionalização e transparência na condução de contratos milionários envolvendo a seleção brasileira, especialmente em um momento de renovação institucional e de expectativas em torno do comando técnico de Ancelotti.
Enquanto isso, a estreia do treinador italiano pela Seleção está marcada para o próximo dia 5 de junho, contra o Equador, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Nos bastidores, a nova cúpula da CBF tenta evitar que o episódio judicial ofusque os planos esportivos.