O escândalo de manipulação de resultados que envolve o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, ganhou um novo capítulo com a confissão formal de Douglas Ribeiro Pina Barcelos, também investigado no caso. Em audiência extrajudicial, Douglas admitiu participação na fraude esportiva e assinou um acordo de não persecução penal com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Com isso, ele escapará de denúncia criminal — desde que cumpra todas as condições impostas pelo pacto.
Douglas, conhecido como “Dopô”, é jogador de futebol com passagens por clubes como América-MG, Boa Esporte, Ipatinga e Guarani-MG. Ele confessou ter apostado R$ 350 na aplicação de um cartão amarelo intencional a Bruno Henrique, na partida entre Flamengo e Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023, esperando um retorno de R$ 1.050. O ato, segundo ele, foi parte de um esquema coordenado por apostadores com ligações pessoais com o jogador rubro-negro.
MPDFT endurece contra Bruno Henrique e irmão: sem acordo, só denúncia
Enquanto Douglas confessou e selou acordo com o MP, Bruno Henrique e seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, não receberam a mesma oportunidade. Segundo o Ministério Público, a gravidade da conduta atribuída a ambos impede qualquer tipo de abrandamento.
“O atacante, além de ser um dos principais nomes do futebol nacional, tem papel simbólico como ídolo de crianças e jovens. Uma resposta branda à sua conduta representaria um incentivo perigoso à banalização de fraudes esportivas”, destacou o MPDFT.
O órgão acusatório foi ainda mais incisivo ao apontar o que considera hipocrisia na conduta do jogador, que atuava como garoto-propaganda da plataforma de apostas BetPix365 ao mesmo tempo em que, segundo a denúncia, planejava fraudes para beneficiar apostadores com acesso privilegiado à sua performance.
“Premeditou e cometeu a fraude narrada na denúncia, usando esse plano como informação privilegiada para ultrajar e prejudicar o próprio setor que lhe financiou”, diz o texto do Ministério Público.
O Ministério Público também contextualizou a denúncia no aumento alarmante da ludopatia (vício em jogos e apostas) no Brasil. Para o órgão, a tolerância a fraudes em competições esportivas abre margem para normalização de práticas criminosas, afetando não apenas o futebol, mas também a integridade de todo o setor de apostas esportivas.
“As fraudes servem como estímulo a usuários já engajados e a potenciais novos consumidores ao transmitir a impressão de que o ambiente das apostas é permissivo”, alertou a promotoria.
Em resposta, a defesa de Bruno Henrique classificou a denúncia como “aproveitadora” e “infundada”, questionando o momento em que ela foi divulgada - no mesmo dia em que o Flamengo embarcou para os Estados Unidos para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA.
“A denúncia oferecida pelo MPDFT, além de inteiramente insubsistente, é manifestamente aproveitadora”, diz a nota dos advogados do jogador.
“Embora a medida do órgão ministerial seja oportunista, as acusações serão técnica e imediatamente refutadas no processo”, concluíram os escritórios Mudrovitsh e Pieri Advogados.
Apesar da crise judicial, Bruno Henrique segue com a delegação do Flamengo nos Estados Unidos. O clube optou por não comentar oficialmente o caso, alegando foco exclusivo na preparação para o Mundial. A estreia será na próxima segunda-feira (16), contra o Espérance de Tunis, na Filadélfia.
A continuidade do processo agora depende da decisão da Justiça sobre o recebimento da denúncia. Caso aceite, Bruno Henrique, Wander e os demais investigados se tornarão réus. Douglas Ribeiro, por outro lado, só escapará da ação penal se cumprir integralmente as obrigações do acordo com o MP - incluindo o pagamento de multa, prestação de serviços e proibição de envolvimento com apostas.
Fonte: CNN Brasil