O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu mais um passo em sua estratégia de ampliar alianças no Nordeste com foco nas eleições de 2026. Em um movimento político surpreendente, Bolsonaro se reuniu nesta quinta-feira (29) com o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio - ex-integrante do PDT e aliado histórico de Ciro Gomes. A reunião simboliza um aceno à construção de um novo palanque no Ceará, voltado a enfraquecer a hegemonia do PT no estado.

Roberto Cláudio, que rompeu com o PDT após divergências internas e desgaste com a base cirista, negocia sua entrada no União Brasil - legenda que se apresenta como ponto de convergência entre a direita tradicional e o bolsonarismo. Interlocutores afirmam que a filiação será formalizada em junho, abrindo caminho para uma candidatura ao governo estadual em 2026, agora com o apoio do ex-presidente.

O gesto foi bem recebido por lideranças bolsonaristas, que vinham resistindo a apoiar qualquer nome vinculado ao PDT - partido que ingressou com a ação que resultou na inelegibilidade de Bolsonaro. A migração de Roberto Cláudio para uma sigla mais afinada com a base bolsonarista foi vista como condição para a aliança se consolidar.

Apesar de publicamente afastado de Bolsonaro, o ex-ministro Ciro Gomes tem sido citado com respeito por figuras da direita. Na semana passada, o deputado federal André Fernandes (PL-CE) surpreendeu ao elogiar Ciro em um evento público, afirmando que ele é “preparado” e “tem coragem para enfrentar Elmano”. Segundo bastidores, há uma tentativa silenciosa de isolar o PT no Ceará reunindo forças adversárias em torno de um projeto comum.

O plano em discussão inclui um acordo para que o grupo ligado a Ciro e Roberto Cláudio apoie Alcides Fernandes - pai do deputado André Fernandes - em uma candidatura ao Senado em 2026. A troca de apoios pode selar uma aliança ampla e inédita no estado, reconfigurando a disputa com o atual governador Elmano de Freitas (PT), que tentará a reeleição com o respaldo de Lula.

Nordeste no radar de Bolsonaro: A articulação no Ceará faz parte de uma estratégia mais ampla de Bolsonaro para reduzir sua rejeição no Nordeste, região onde teve desempenho fraco nas urnas em 2022. No segundo turno daquela eleição, Lula obteve 69,3% dos votos nordestinos contra 30,6% de Bolsonaro. Ainda assim, o ex-presidente viu sua influência crescer em 2024 com vitórias em capitais como Maceió (AL) e Aracaju (SE).

Bolsonaro quer repetir esse avanço em 2026, inclusive com candidaturas personalistas ao Senado, mirando maioria na Casa para influenciar decisões sensíveis, como pautas econômicas e possíveis embates com o Supremo Tribunal Federal.

Caminhos para 2026: Com o alinhamento entre ex-adversários e a reorganização das forças de oposição no Ceará, o tabuleiro político no estado começa a se movimentar com intensidade. O grupo bolsonarista quer garantir musculatura local para enfrentar a força petista no Nordeste - e, ao mesmo tempo, consolidar uma base mais ampla para o eventual retorno de Bolsonaro ou de um nome indicado por ele ao Planalto.

A reunião com Roberto Cláudio sinaliza que, no jogo da política, alianças improváveis são cada vez mais possíveis.

Fonte: Poder360