A relação entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso Nacional atravessa um dos momentos mais tensos desde o início da atual gestão. É o que revela a terceira edição da pesquisa “O que pensam os deputados federais”, realizada pelo instituto Genial/Quaest, que ouviu 203 parlamentares - cerca de 40% da Câmara - entre os dias 7 de maio e 30 de junho.
Pela primeira vez, a maioria dos deputados federais consultados avalia negativamente a articulação do governo com o Congresso. A percepção ruim subiu de 47% para 51%, com destaque para o crescimento da insatisfação entre os parlamentares independentes (de 45% para 65%) e os que se identificam com o centro político (de 38% para 49%).
Além disso, 57% dos entrevistados acreditam que as chances de o governo aprovar sua agenda legislativa são baixas. Em maio de 2024, esse índice era de 47%, empatado com os que tinham expectativa positiva. Agora, apenas 36% seguem confiantes na tramitação das pautas governistas.
Mesmo com 84% dos deputados afirmando já terem sido recebidos por algum ministro, apenas 43% disseram que seus pedidos foram atendidos. Quando perguntados sobre quem consideram o interlocutor mais eficiente do governo, Gleisi Hoffmann (12%) e Alexandre Padilha (9%) lideram, mas 30% dos parlamentares afirmaram não ver qualquer interlocutor efetivo, ou não souberam responder.
Outro dado preocupante para o Planalto está na percepção sobre a política econômica. 64% dos parlamentares consideram que o governo está conduzindo a economia na direção errada — um salto em relação aos 55% do levantamento anterior. Apenas 28% acreditam que a política econômica está no caminho certo.
A reforma ministerial, um dos mecanismos que o governo tentou utilizar para recompor alianças, também foi mal avaliada. Para 77% dos deputados, as mudanças feitas até agora foram ineficazes. A crítica parte inclusive de dentro da base governista, onde 65% consideram que a reforma não surtiu efeito. O índice é ainda mais alto entre independentes (80%) e a oposição (90%).
Embora 68% dos deputados acreditem que Lula será candidato à reeleição em 2026, 50% apostam que o próximo presidente será da oposição - número que era de 43% na edição anterior. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece com força crescente como principal nome oposicionista: 49% o veem como o principal adversário de Lula, um avanço de 10 pontos em relação ao ano passado.
A figura de Jair Bolsonaro parece em queda: 51% dos parlamentares acham que ele deveria abrir mão da candidatura em 2026, contra apenas 23% que defendem sua permanência na disputa.
No campo das propostas legislativas, a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda lidera o apoio entre os deputados, com 88% de aprovação. Também receberam apoio significativo a exploração de petróleo na Amazônia (83%) e o aumento de penas para roubos (76%).
Em contrapartida, medidas como o fim da escala 6×1 e a exclusão das verbas do Judiciário do teto de gastos enfrentam forte rejeição: 70% dos parlamentares são contra essas propostas.
A pesquisa também mostra desgaste na percepção do Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação negativa da Corte passou de 40% para 48%, enquanto a positiva recuou de 34% para 27%. Até entre os governistas, o apoio ao STF caiu de 69% para 57%, e entre os independentes, a crítica subiu para 54%.
Sobre o maior problema do Brasil, a violência saltou para 23% das respostas, subindo da terceira para a segunda posição. A economia ainda lidera, com 31%, embora tenha recuado em relação aos 38% registrados no ano passado.
A avaliação negativa do governo subiu levemente, de 42% para 46%. A positiva caiu de 32% para 27%, enquanto 24% dos deputados consideram a gestão regular. Esses dados confirmam o momento delicado de Lula no Legislativo, com perda de apoio no centro e entre independentes, grupos-chave para qualquer coalizão majoritária.
Fonte: Genial/Quaest