A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mantém parados, há mais de cinco meses, dez veículos zero quilômetro em concessionárias do grupo Fiat no Rio de Janeiro. Os carros, avaliados em R$ 2,9 milhões, foram entregues pela montadora em novembro de 2023 como saldo final de um contrato de patrocínio encerrado em fevereiro de 2023. As informações foram reveladas pela revista Piauí
Entre os automóveis abandonados estão oito Jeep Commander Overland T450 Turbodiesel, avaliados em R$ 309.990 cada, além de um Jeep Compass Sport T270, com preço de mercado a partir de R$ 154.990, e um Fiat Mobi Like, que custa R$ 77.990.
O contrato com a Fiat, firmado em 2019, previa o fornecimento de R$ 6 milhões anuais em veículos por quatro anos. O objetivo era atender às necessidades logísticas das seleções masculinas, femininas, olímpicas e de base. Ao final do acordo, um valor remanescente estimado em R$ 3 milhões foi quitado com a entrega dos dez automóveis não retirados.
Apesar de não utilizar os carros, a CBF pagou em 2024 R$ 113,5 mil em IPVA pelos veículos que seguem parados. A atual gestão, liderada por Ednaldo Rodrigues desde 2021, optou por não buscar os automóveis, mesmo após utilizar parte da frota recebida em anos anteriores.
Rodrigues chegou a incorporar três Jeep Compass à sua escolta pessoal. Os veículos foram blindados a um custo adicional de R$ 210 mil, pagos pela entidade. Ao longo dos quatro anos de contrato, a Fiat forneceu 124 veículos à CBF, dos quais muitos foram repassados a federações estaduais, sorteados entre torcedores ou usados como premiação - como no caso da goleira Luciana, da Ferroviária, que recebeu um Fiat Pulse após a conquista da Copa América em 2023.
Gastos paralelos com transporte e denúncias internas
Mesmo com a frota disponível, a CBF contratou serviços externos de transporte, incluindo de uma empresa de propriedade de Anderson Castro de Souza, motorista particular do presidente da entidade. Em março de 2022, essa empresa cobrou R$ 158 mil para transportar 36 dirigentes do aeroporto à sede da confederação em um único dia. Estimativas baseadas em aplicativos de transporte indicam que o custo do trajeto seria inferior a R$ 11 mil.
A reportagem da Piauí também detalha problemas administrativos internos. Em 2024, houve um atraso de quase duas semanas para o pagamento do conserto de um controle remoto de televisão usado por Dorival Júnior, então técnico da Seleção Brasileira. O item, de valor inferior a R$ 150, ficou à espera de autorização da presidência para ser quitado.
Ex-funcionários relataram ainda dificuldades operacionais e desorganização interna. Uma ex-servidora afirmou ter encontrado contratos sem catalogação e ordens de pagamento sem registros formais. “Fiquei com a impressão de que a desorganização era proposital”, declarou à revista.
Apesar de ter registrado uma receita líquida de R$ 1 bilhão em 2023, a CBF acumula atualmente 43 protestos em cartório, que somam R$ 2,6 milhões - praticamente o valor dos carros abandonados.
A confederação ainda não se manifestou oficialmente sobre os veículos não retirados, os custos extras com transporte ou as críticas à gestão.